Dia da Carménère ?

Este post pode eventualmente ser polêmico! Porque? Porque tem muito a ver com gosto pessoal assim como das principais características dos vinhos provados. Particularmente sou da turma que diz o melhor vinho é aquele que gosto de tomar, mas tenho minhas uvas favoritas como a Nebbiolo, a Sangiovese, a Pinot Noir etc etc, em contrapartida algumas com as quais tenho certas restrições como é o caso da Pinotage da Carménère e algumas outras. Hoje é festejado o dia da Carménère portanto decidi postar uma nota sobre esta varietal que por algum tempo os produtores chilenos quiseram rotular como a variedade tinta Ícone daquele país, mais ou menos em linha com o que ocorreu com a Malbec na Argentina. Aliás as semelhanças não param por aí, a Carménère também é uma variedade francesa com origem bordalesa especificamente da região do Medoc. Na década de 1860 a variedade foi totalmente dizimada na França pela filoxera, só ressurgindo em 1994 no Chile descoberta pelo ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot e aí adotada por muitos enólogos chilenos como a variedade icônica do Chile. As principais características desta variedade são a forte presença de frutas vermelhas doces lembrando geleias acompanhado de intensos aromas herbáceos. Na boca acidez média, taninos sedosos, corpo médio e final de boca confirmando o olfativo. Estas características em minha opinião tornavam seus vinhos com pouca vibração por sua média acidez, e muito marcados pelo excesso de notas vegetais que em alguns casos traziam amargor, isto levou alguns enólogos a colher a uva sobremadura, ou utilizar mais intensamente a guarda em madeira que fez com que os aromas frutados e terciários prevalecessem para encobrir os herbáceos, mas penso que esses procedimentos na maioria dos casos acabaram prejudicando ainda mais o resultado final. Com o passar do tempo as coisas mudaram, especialmente a partir do momento em que os enólogos decidiram aceitar as características típicas da variedade. Em suas pesquisas perceberam que quanto mais estressados estivessem os parreirais, mais cedo as pirazinas parariam de ser produzidas, diminuindo desta forma o impacto das notas verdes no vinho, outros procedimentos que deram bons resultados foram o de colher as uvas mais cedo o que trouxe mais acidez ao vinho, a redução do excesso e uso de madeira, e finalmente a utilização de vinhedos de altitude que melhoraram a performance da Carménère. Como jornalista especializado em vinhos tenho acompanhado de perto estas mudanças e hoje posso dizer que temos exemplares desta casta muito mais palatáveis do que os passados. Seguem alguns bons exemplos: 1865 Selected Vineyards da Viña San Pedro, Carmin de Peumo da Concha y Toro, Orzada da Odfjell, Kai da Errazuriz, Los Lingues da Casa Silva, Terrunyo da Concha y Toro, Alto de Piedra da De Martino.

Não sou muito de comemorar essas datas, mas fica aí meu “salute” a todos os apreciadores desta variedade.

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