Durante o mes de Dezembro tive a oportunidade de participar de um seminário seguido de uma Master Class de vinhos Chianti. A abertura foi feita pelo presidente do Consórcio Giovanni Busi, e a apresentação sobre o Chianti coube ao embaixador do consorcio o português Luca Alves. A primeira parte do evento a cargo de Luca foi concentrada na história dos vinhos Chianti assim como de suas regulamentações e distinções sobre suas sub regiões, foi longo levando mais que uma hora, mas por outro lado trazendo muito conteúdo para quem não conhece em detalhes deste icônico vinho toscano e até mesmo para muitos experts da região. A segunda parte foi uma deliciosa surpresa apresentada pelo sempre competente Jorge Lucki, uma degustação às cegas de 6 vinhos de diferentes sub regiões do Chianti ,vinhos estes que descreverei mais à frente. Mas para mim a maior surpresa mesmo foi ao final, quando os vinhos foram sendo abertos, notar que todos eles seguiam os princípios da agricultura orgânica uma agradável realidade que veio para ficar.
O Consorcio Vino Chianti foi fundado em 1927, já em 1967 seus vinhos passam a ter a denominação DOC ( Denominação de Orígem Controlada) e em 1984 reconhecidos como DOCG (Denominação de Orígem Controlada e Garantida). A área dividida em 7 sub regiões, a saber: Chianti Colli Fiorentini, Chianti Colline Pisane, Chiante Montespertoli, Chianti Colli Aretini, Chianti Colli Senesi, Chianti Montalbano, e Chianti Rufina. A área total de vinhedos englobada pela entidade é de 15.500 hectares com mais de 3.600 produtores e produção de 100 milhões de garrafas ano. No que diz respeito a variedades a Sangiovese é a uva emblemática a região que participa com no mínimo 70% da composição de seus vinhos. As outras uvas normalmente utilizadas nos cortes são as autóctones Canaiolo, Ciliegiolo, Colorino, e Malvasia Nera além das internacionais Merlot e Cabernet Sauvignon. Os vinhos são encontrados em 3 versões: Chianti Annata que só pode ser comercializado a partir de 1 de Março do ano seguinte a colheita,vinho de corpo leve bem frutado normalmente com passagem por cimento e inox, Chianti Superiore que só pode ser comercializado a partir de 1 de Setembro do ano seguinte a colheita, mais robusto e mais complexo quando com ligeira passagem por madeira. Chianti Riserva com guarda obrigatória de no mínimo 24 meses antes de ser comercializado, um vinho mais estruturado com maior presença de álcool, taninos mais macios, e maior complexidade olfativa. Normalmente passam algum tempo em madeira.
Vamos aos vinhos degustados às cegas:
Casale dello Sparviero 2019 – Chianti dei Colli Senesi de agricultura orgânica, de terrenos com 250 metros de altura acima nível do mar, corte com 90% Sangiovese, 19% de Canaiolo com passagem por tanques de concreto por 1 ano mais 2 meses de garrafa. – Rubi, ralo leve toque granada e presença de leve halo de evolução. Olfativamente, vinoso, fruta vermelha fresca, herbáceo, toque floral lembrando violetas e mineral. Alta acidez, taninos presentes, seco, corpo curto, final frutado com ligeira amêndoa amarga.
Castello Trebbio 2019 – Chianti Rufina. – Agricultura orgânica, de terrenos com 150 metros de altura acima do nível do mar, um corte com 85% Sangiovese e 15% entre Canaiolo e Ciliegiolo, com passagem de 6 meses por madeira e 6 meses em tanques de inox, mais 3 meses de garrafa. – Rubi, ralo, sem halo. Frutas vermelhas maduras, flores escuras, especiarias, couro, terroso, leve herbáceo e tostado. Ótima acidez, taninos presentes de ótima qualidade, seco, mais macio e delicado que o anterior, corpo médio retrogosto frutado e fresco. Foi um dos meus dois favoritos, e gostaria de prova-lo daqui uns 3 anos.
Poggiotondo 2018 – Chianti Montalbano. – Agricultura orgânica, de terrenos com 150 metros de altura acima do nível do mar, um corte com 90% Sangiovese, e 10% Canaiolo e Colorino, passagem de 12 meses em barricas carvalho não tostado, mais 3 meses em garrafa. Rubi, ralo, sem halo. Herbáceo, frutas negras frescas, violetas intensas, alcatrão, e especiarias. Acidez média, seco, bem tânico, rústico, final de boca com fruta negra fresca floral e alcaçuz. Um vinho com menos estrutura que o anterior, e com frutas mais doces e menor acidez.
Il Primo Vignano 2017 – Chianti Colli Fiorentini. – Agricultura orgânica, de terrenos com 300 metros de altura acima do nível do mar. Varietal 100% Sangiovese com passagem de 24 meses em barricas francesas 1º e 2º uso mais 3 meses de garrafa. Rubi ralo, sem halo. Frutas negras maduras, chocolate amargo, ervas aromáticas, amêndoas e alcaçuz. Na boca, alta acidez, taninos bem presentes, corpo amplo, alcoólico, final frutado e presença de terciários. Um vinho mais estruturado, gordo que para mim perdeu a mão no uso de madeira, além de ser o que senti mais álcool do painel inteiro.
Sassocupo Buccia Nera 2014 – Chianti Colli Arentini. – Agricultura orgânica, corte com 90% Sangiovese e 10% de Canaiolo, de terrenos com 450 metros de altura acima do nível mar e passagem de 12 meses em bottes franceses mais 2 meses de garrafa. Rubi, média concentração sem halo. Frutas vermelhas maduras com ligeira evolução, cereja no licor, violetas intensas, especiarias, terroso e leve tostado bem integrado. Acidez cortante, taninos finos ainda presentes, retrogosto fluido trazendo de volta a cereja e um toque de alcaçuz. Um vinho delicioso, mais austero e complexo, para mim o destaque do dia.
Emilio Tenuta Morzano 2012 – Chianti Montespertoli.- Agricultura orgânica, Varietal 100% Sangiovese de terrenos com 300 metros de altura acima do nível do mar e passagem de 12 meses em barricas francesas mais 8 meses de garrafa. Rubi indo para granada mais intenso leve halo. Cereja no licor, café, musgo, especiarias doces, mineral e presença mais intensa de baunilha. Na boca, acidez média, taninos presentes, corpo intenso, longo, alcoólico e retrogosto com excesso de terciários. Um vinho potente mais no estilo Riserva, que às cegas parecia mais com castas francesas como cabernet e merlot do que sangiovese.
Gostaria de parabenizar o Consorcio Vino Chianti pela organização e conteúdo deste delicioso evento. Forza Chianti !