Vertical do Icono confirma mudança de estilo

Tudo na vida passa por ciclos onde os gostos e as modas
mudam, e certamente o mundo dos vinhos não escapa desta verdade. Por muitos
anos vivemos sob o domínio dos vinhos alcoólicos, amadeirados e extremamente
frutados, os famosos fruit bomb, mas não por isto deixamos de encontrar vinhos mais
delicados e leves. Os ventos mudaram e hoje em dia vemos que o politicamente
correto?? são os vinhos mais elegantes frescos e fáceis de beber. Qual linha é
a correta? em minha opinião nenhuma das duas que nos leve ao extremismo, afinal
o vinho de ter aromas agradáveis e sua presença em boca deve denotar o bom
balanço de sua acidez, taninos e álcool. Na semana passada recebi um delicioso
convite para participar de uma degustação vertical do vinho “Icono” de uma das melhores
e mais respeitadas vinícolas da Argentina a Luigi Bosca fundada em 1901 na região
de Lujan de Cuyo por Leoncio Arizu. Os Arizu mantem o negócio familiar até os
dias de hoje através de Alberto Arizu. E foi ele junto a seu enólogo Pablo
Cúneo que no proporcionaram tal privilégio e que para mim confirmou que grande
vinhos podem ser produzidos sob diferentes estilos e escolas. A vertical contou
com 6 safras (2006, 2008, 2010, 2011, 2015 e 2017) todos elaborados com uvas
Malbec e Cabernet Sauvignon de vinhedos próprios da Finca Los Nobles que conta
com 50 hectares cultivados com práticas orgânicas e biodinâmicas. 
Vertical do Icono desvenda mudança de estilo

Alberto Arizu


Vamos a cada
um dos exemplares provados:


Icono 2006 (*) – Rubi granada, extra tinto, leve halo.
Balsâmico, fruta negra, violetas, pimenta, tostado e toque herbáceo. Na boca
tripé acidez, álcool e taninos em perfeita harmonia, sedoso, corpo médio, final
com frutas bem maduras lembrando ameixa e toque de tabaco. Um dos vinhos
elaborados na época dos vinhos mais bombados mas que com o tempo atingiu seu
ápice, o balanço de boca foi seu grande atributo seguido de uma complexidade aromática
mais austera e senhoril foi um dos meus dois vinhos favoritos.

Icono 2008 (*) Granada visualmente mais evoluído que o
anterior, No nariz, tabaco, frutas negras mais confitadas, toque herbáceo, e
leve mineral. Na boca mais picante e anguloso, taninos ainda presentes,
sensação alcoólica mais pronunciada. Um vinho que parece ainda não estar pronto
pela presença mais intensa dos taninos, mas com corpo mais pesado final de boca
gastronômico.

,Icono 2010 (*) Rubi, extra tinto, leve halo. Fechado,
frutas negras maduras, tostado herbáceo, e floral. Na boca, alta acidez,
taninos mais intensos, bom corpo retrogosto marcado por certo amargor que
lembrava alcaçuz.  Um vinho mais anguloso
que teve mais presença de aromas herbáceos e ligeira acidez volátil. Foi o
exemplar que menos me agradou

Icono 2011 (*) Rubi intenso, sem halo. Frutas negras
maduras, direto, mineral, especiarias, floral, e toque de alcaçuz. Na boca, ótima
acidez, taninos presentes, encorpado, mas menos intenso que os anteriores final
de boca frutado e mineral. Um vinho gostoso estruturado mas mais direto e
contido típico de safra mais fria.

Icono 2015 (**) Violáceo extra tinto, sem halo. Frutas
negras frescas, grafite, menta, e mineral. Na boca mais delicado, corpo médio e
leve, mais moderno em certos momentos me lembrou mais um Cabernet Franc. Com o
tempo de taça manteve o frescor e delicadeza prova que a boa acidez equilibrou
seus 14,6% de álcool. Certamente colheita antecipada facilitou esta característica.
 Foi meu vinho favorito juntamente com o
da safra 2006

Icono 2017(**) – Rubi extra tinto sem halo. Limpo frutas
negras, floral, fosforo, e menta. Na boca, boa acidez, taninos finos, presentes,
sensação alcoólica mais pronunciada, corpo curto, final frutado e vivido,
pontinha verde. Um vinho jovem que ainda precisa de tempo para aparar suas
arestas especialmente a sensação alcoólica, com mais dois/três anos de garrafa
deverá estar arredondado, e no seu auge de consumo.

Resumindo meus dois vinhos favoritos foram de estilos diferentes mas tinham em comum o perfeito balanço de boca e a complexidade olfativa.

(*) Vinhos com estilo mais estruturado e extraído
(**) Vinhos com estilo mais leve e delicado


Para mim esta prova  comprovou mais uma vez uma teoria
que tenho, de que seja lá qual for o estilo do vinho, se ele for elaborado com
boa matéria prima e o enólogo conseguir balancear o tripé acidez, taninos e
álcool, teremos um vinho prazeroso. É claro que a manipulação do processo de produção
as vezes pode mascarar defeitos, mas o tempo de garrafa irá desafiar estas
correções. Durante a apresentação dos vinhos perguntei a Pablo como eles tem
tratado a sabida falta de acidez dos vinhos elaborados na Argentina, pois somos
sabedores que quase todos eles são acidificados no processo. A resposta é que hoje
em dia com a colheita sendo feita mais cedo, e pelo fato da escolha do lugar
certo para se plantar os vinhedos e as corretas variedades tem ajudado a gerar
vinhos com melhor acidez natural, e que mesmo que ainda existam correções, é sensível a percepção desta acidez mais viva e refrescante.
Gostaria de terminar este post pedindo para que pelo
menos no mundo do vinho tenhamos menos radicalismo e de generalizar algo que
não pode ser generalizado, hoje estamos voltando a produzir vinhos como nosso
avôs faziam, e abandonando o processo de vinhos mais estruturados que nos satisfizeram
nos últimos 20 anos. Será que daqui uns 10/15 anos vamos voltar a este estilo? Particularmente
sempre levo em conta o histórico do produtor pois longos períodos de sucesso normalmente
comprovam a qualidade de seus produtos. Acho que a Luigi Bosca é um destes
produtores que já não precisam provar mais nada pois seus vinhos são sempre de
alta qualidade seja lá qual estilo foi adotado em sua elaboração. 
Preço de venda no Brasil: R$ 886

Decanter – Site: www.decanter.com.br  Fone (011) 3702 2020

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