COLUNISTAS – Bierzo e Mallorca

Por: Renato Frascino

O mundo da história do vinho realmente nasceu na Mesopotâmia com uvas primitivas selvagens, mas foi na Grécia que se descobriu a vitis vinifera, levada posteriormente pelos romanos para as novas regiões.
O vinho sempre fez um dueto com o desenvolvimento das civilizações: Egito, cultura galo-romana, Idade Média, monges, descobrimentos, 1500, e assim por diante.
Mas, na década de 1980, as pessoas passaram a despertar para o mundo maravilhoso do vinho, seus terroirs, cepas, tecnologia, variedades autóctones dos microlocais, suas regiões, serviços e cultura.
Até então cada país produzia seus vinhos em regiões tradicionais sem preocupação de demarcação ou variedade monocasta.
A Espanha é um caso típico, sendo RIOJA e a uva Tempranillo sua marca de destaque. Mas nos últimos anos descobrimos que a realidade é outra; novas ou velhas regiões mostram uma outra história com terroirs e uvas desconhecidas pelo mundo do vinho, graças à rebeldia e visão de dois grandes produtores espanhóis, Álvaro Palacios e Miquelàngel Cerdà, que redescobriram na região de Bierzo, em León, a variedade conhecida como Mencia, e na região de Mallorca as varidades Callet tinta e Moll branca que produzem vinhos elegantes com personalidade distinta.
Em um magnífico cenário no caminho de peregrinação para Santiago de Compostela, nas altas terras de Léon, encontramos vinhos soberbos com uvas plantadas em 128 minúsculos vinhedos localizados em terrenos de puro xisto, alguns com mais de 100 anos de idade, onde a uva Mencia é a grande estrela. A estrutura desses vinhos lembra muito a Cabernet Franc com aromas dos grandes Saint-Émilion, concentrados, frescos como o amanhecer nas montanhas, elegantes, equilibrados, com taninos ajustados e encorpados.
Já na da Ilha de Mallorca, na região de Felanitx, paraíso das uvas Callet tinta e Moll branca, encontramos o ex-marinheiro e produtor Miquelàngel Cerdà, que produz em sua bodega cerca de 3.000 garrafas do emblemático Anima Negra com rendimentos de produção baixos, por volta de 300 gramas de uva por vinha. Os vinhos dessa região, elaborados com a uva Callet tinta, possuem estrutura potente, elegante, com aromas de minerais, frutas negras maduras, são encorpados e de personalidade única. Já a uva branca Moll possui toques de especiarias, minerais, oceânicos e muita cremosidade no final de boca.
O velho ditado que diz “vivendo e aprendendo” sempre será uma regra no mundo dos enófilos. Assim sendo, o maravilhoso mundo da cultura do vinho é grandioso e requer sabedoria e não somente conhecimento com humildade a paixão.
RENATO FRASCINO ENÓFILO DESDE 1977.

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