COLUNISTAS – SANGIOVESE

Conhecendo as Origens
Por: Nelson Luiz Pereira
Uva emblemática da Toscana, além de ser a tinta mais plantada na Itália. Denominações como Chianti, Brunello di Montalcino e Vino Nobile di Montepulciano são algumas das mais importantes em que a Sangiovese tem presença destacada.
Conforme o local ela pode assumir vários nomes: Brunello em Montalcino, Prugnolo Gentile em Montepulciano, Morellino em Maremma, além de Sangioveto. O mais importante é que existem dois clones marcantes e diferenciados: Sangiovese Piccolo e Sangiovese Grosso.
O primeiro é cultivado em toda a região do Chianti, principalmente no Chianti Clássico e nos vinhedos que dão origem aos chamados supertoscanos. Já o segundo é cultivado em Montalcino, onde foi desenvolvido por Ferruccio Biondi Santi com seu mítico Brunello.
Esta é a principal razão dos Brunellos de uma maneira geral serem mais encorpados e estruturados que os Chiantis, pois a Sangiovese Grosso apresenta uma pele mais grossa, fornecendo mais aromas, cor e principalmente taninos aos vinhos. Não há como cultivá-la satisfatoriamente na região do Chianti por questões climáticas, comprometendo sua perfeita maturação. Devemos lembrar que a região de Montalcino é mais quente que as colinas de Chianti, proporcionando uma colheita sempre antecipada.
Em linhas gerais, a Sangiovese costuma gerar vinhos de boa coloração, destacada acidez e boa estrutura tânica. Seus aromas podem lembrar cerejas, toques florais de violeta, além de ervas e especiarias. Muitas vezes, ela é cortada com outras uvas locais (Canaiolo, Colorino) ou castas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah, por exemplo. Os vinhos mais estruturados estagiam em barricas de carvalho francês, eventualmente mesclados com tonéis maiores denominados botti.
Aqueles que quiserem checar o potencial de um puro Sangiovese, excetuando os Brunellos que já são velhos conhecidos, podem e devem provar um dos maiores supertoscanos da atualidade, o grande Flaccianello da cantina Fontodi, com notas espetaculares nas últimas safras avaliadas pela Wine Spectator: 2001 (97 pontos), 2004 (95 pontos), 2005 (94 pontos) e 2006 (99 pontos).
Este vinho é um IGT (Indicazione Geografica Tipica), sob a denominação Colli della Toscana Centrale. É um vinhedo com mais de trinta anos localizado em Panzano, a sub-região mais badalada de Greve in Chianti, ao norte da região do Chianti Clássico. Seu solo é rico em galestro (espécie de argila laminar), que confere corpo e estrutura aos vinhos, como em nenhuma outra parte do Chianti Clássico. As uvas são cuidadosamente vinificadas e o vinho é amadurecido posteriormente em barricas de carvalho francês por ao menos dezoito meses.
A safra 2004 que eu provei foi um completo infanticídio. O vinho apresentava cor extremamente concentrada, sem qualquer halo de evolução. No início, aromaticamente estava muito fechado. Aos poucos foi revelando uma concentração de frutas escuras, um toque mineral e nuances de violeta encantadores. Muito encorpado, perfeito equilíbrio, taninos finíssimos e madeira elegante. Um vinho de guarda. Para quem não tem paciência, é obrigatório decantá-lo com duas horas de antecedência.

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