Wine Street degusta Chardonny maduros

Existem muitas verdades no mundo dos vinhos e uma delas é que seu envelhecimento é potencialmente capaz de melhorar sua qualidade. Mesmo que ele seja um produto perecível, reações químicas complexas envolvendo açúcares, ácidos e compostos fenólicos podem maximizar sua paleta aromática, assim como sua sensação de boca, tornando o mesmo mais prazeroso e complexo. A capacidade de um vinho envelhecer depende de muitos fatores, como a variedade de uva, a safra, práticas vitícolas, a região de plantio das uvas, a altitude, a proximidade do mar, o solo, o clima, o estilo de vinificação, sua guarda etc. Mas temos que deixar claro que nem todos os vinhos são elaborados visando longa guarda, a grande maioria são vinhos para serem tomados rapidamente ou com guarda curta que é normalmente feita pelo próprio produtor. Enfim, apenas uma pequena parcela de apaixonados por vinho e com boa situação financeira podem adquirir os vinhos TOP das vinícolas e guardar os mesmos em adegas climatizadas para consumo futuro. Se esta condição é verdadeira para os vinhos tintos imaginem para os brancos que sempre foram considerados de menor qualidade e de consumo imediato. Apenas como informação lembro ter lido a uns 2 anos atrás que 90 pct do vinho é consumido no mesmo ano que foi produzido. Focando apenas nos vinhos brancos vamos aos principais fatores que dão longevidade aos mesmos: alta acidez natural (PH abaixo de 3,5) é definitivamente o fator mais importante para alongar a vida destes vinhos, solos mais ricos, que aumentam a folhagem fazendo com que as uvas passem por uma maturação mais lenta, clima mais frio, contato do vinho com as cascas, e guarda em madeira que aumentam os fenóis e consequentemente, seu tempo de guarda.

 Pois bem, vamos agora sair da teoria para a prática, com esta degustação especial “Chardonnay com mais de 10 anos”, em evento organizado e realizado pela confraria Wine Street da qual faço parte. Os exemplares foram escolhidos tendo como base as informações básicas acima mencionadas, assim como na experiência do grupo de degustadores com vinhos maduros.  Decidimos também escolher um exemplar de cada país sem necessariamente concentrarmos em vinhos muito caros. Como sempre a degustação ocorreu às cegas sem conhecimento de que vinho estávamos tomando, e vale reforçar por ter provado apenas uma garrafa de cada exemplar e não termos condições de saber como cada uma delas foi guardada os resultados  não podem ser considerado como uma verdade absoluta  pois uma segunda garrafa poderia dar resultados diferentes, dependendo de sua guarda durante todos estes anos o que me faz lembrar aquela máxima que diz “Não há bons vinhos velhos, há boas garrafas de vinhos velhos”.  Bem por incrível que possa parecer o mercado brasileiro abre algumas boas oportunidades para quem quer provar um bom vinho branco maduro pois pelo fato do consumidor comum preferir vinhos frescos e de pouca idade, muitas importadoras acabam tendo certa dificuldade em vender rótulos mais antigos e até muitas vezes colocando-os em promoção. Mas o conselho que dou a vocês é que antes de comprar este tipo de vinho se atentem para as dicas dadas anteriormente, como baixo PH, estudem sua origem, variedades e todos os outros fatores que permitem que o vinho envelheça bem e traga ao consumidor o prazer de tomar um bom branco evoluído.

Para esta prova colocamos frente a frente 7 exemplares sendo dois do velho mundo (França e Itália) pela sua experiência e tradição com este tipo de vinhos e 5 do novo mundo (Argentina, Brasil, Chile, EUA e Nova Zelândia) que a algum tempo tem surpreendido os membros desta confraria pelo seu potencial de guarda

  1.  Faiveley Mercurey Blanc  2005 – Borgonha França 13% de álcool com passagem de 16 meses por barricas francesas. -R$ 440 para safra 2015 na Mistral – Dourado intenso brilhante. Abacaxi maduro com forte evolução, ervas aromáticas, manga, pimenta branca e toque amanteigado. Na boca acidez média, corpo curto, final de boca trazendo frutas evoluídas, e presença de oxidação. Um vinho delicado, austero, que passou do momento correto de consumo, por se apresentar com pouca vibração e frescor por sua acidez não tão intensa, e mesmo sendo o mais antigo decepcionou um pouco pela origem do mesmo ser reconhecida como produtora de vinhos de longa guarda. Por essas e outras ficou em sétimo lugar. Nota 89,6/100
  1. Pio Cesare L’Altro 2009 – Piemonte Itália, 13,5 de álcool, com passagem de 7 meses em barricas novas para 25% do vinho. – RS 480 para safra 2017 na Decanter – Dourado intenso e brilhante. Boa complexidade trazendo caroço de pêssego, abacaxi, giz, toque terroso, manteiga, início de evolução de fruta, e leve acidez volátil. Na boca acidez cortante, seco, corpo médio, persistência longa, retrogosto refrescante com frutas e leve terciário. Um vinho mais jovem, duro, mas que em minha opinião está no fim do seu auge já iniciando a mostrar sinais de oxidação, definitivamente para ser tomado já, vinho que gerou polemica entre os degustadores. Ficou em quinto lugar.  Nota 90/100
  • One Tree 2009 – Hawkes Bay -Nova Zelândia, 13,5 de álcool – Usd 30 na Europa – Palha verdeal brilhante. Olfativamente com muitas camadas, mineral, petrolato, borracha, casca de ostra, lichia, toque de limão siciliano, e ligeiro dulçor. Ótima acidez, perfeito balanço de boca, corpo médio, persistência longa, final de boca refrescante. Um vinho vibrante, atrativo, bajulador, que agrada tanto por sua mineralidade como por suas frutas delicadas e ligeiramente doces, comprovando ser um país que elabora grades vinhos brancos. Foi o destaque do painel. Nota 91,1/100
  • Casa Valduga Gran Reserva 2009 – Vale dos Vinhedos Brasil, 14% de álcool e passagem de 10 meses por barricas francesas e romenas.  – R$ 140 para safra 2018, na Costi Bebidas – Dourado brilhante. No nariz abacaxi, lácteo, terroso e presença madeira e de álcool. Na boca, boa acidez, seco, quente, mais pesado bem no estilo novo mundo. Um vinho pronto para beber, mas que pecou por excesso de álcool o que lhe tirou o frescor. Boa alternativa para os apreciadores de vinhos mais estruturados. Ficou em sexto no painel.  Nota 90/100
  • Catena Alta 2006 – Mendoza, Argentina, com 14,5% de álcool e passagem de 11 meses em barricas francesas sendo 60% novas. – R$ 340 para safra 2019 na Mistral.  – Palha brilhante. Floral intenso, pera, limão, mineral, talco, noz moscada, e aromas terciários bem integrados. Na boca ótima acidez, seco, ligeira tanicidade, corpo intenso, retrogosto frutado lembrando maracujá, e tostado. Um vinho rico, seco, direto fácil de gostar, onde a ótima acidez escondeu seu alto teor alcoólico e lhe permitiu manter o frescor depois de 15 anos de garrafa, chegou em terceiro lugar.  Nota 90,3/100
  • EQ Matetic 2007 – San Antônio Chile com 14,5 de álcool com passagem de 12 meses por barricas francesas. – R$ 212 para safra 2017 na Grand Cru – Palha brilhante. Frutas brancas, abacaxi maduro, toque herbáceo, cítrico, tostado e mineral com leve salgado. Ótima acidez, leve tanino, ponta de álcool, encorpado, persistência moderada, e retrogosto trazendo pêssego e aquele toque salino. Um vinho elaborado com uvas de cultura biodinâmica, refrescante, mas mais rústico e gastronômico. Vinho que promete ainda mais. Foi o segundo melhor vinho do painel longa guarda. Nota 90.6/100
  • Far Niente 2010 – Napa Valley – USA, com 14,3 de álcool, e passagem de 10 meses em barricas francesa sendo 58% de primeiro uso. – Usd 70 para safra 2019 nos EUA – Palha brilhante. Abacaxi maduro, baunilha, mel, floral, chocolate branco e tostado bem integrado. Na boca harmônico, vibrante com uma pontinha a mais de álcool que não me incomodou, gordo, persistência longa e final de boca com abacaxi e terciários. Um vinho potente, mas com suculência que o apelidei de  fruit bomb comportado, alguns degustadores já tomaram este vinho no passado e a impressão que ficou, é que está bem menos pesado do que em safras mais antigas, Este exemplar americano e o francês foram os dois mais fáceis de acertar a origem. Nota 90,2/100

Minha classificação para os vinhos: 1º One Tree 2009, 2º L’Altro Pio Cesare 2009, 3º Far Niente 2010, 4º EQ Matetic 2007, 5º Catena Alta 2006, 5º Casa Valduga Gran Reserva 2009, 7º Faiveley Mercurey Blanc 2005

Classificação do Grupo: 1º One Tree 2009, 2º EQ Matetic 2007, 3º Catena Alta 2006, 4º Far Niente 2010, 5º L’Altro Pio Cesare 2009, 6º Casa Valduga Gran Reserva 2009, 7º Faiveey Mercurey Blanc 2005

Vamos aos vinhos favoritos de cada um dos degustadores:

Alessandro Tommasi – Pio Cesare L’Atro Chardonnay 2009 – Piemonte – Itália – 92 pontos

João Altman – EQ Matetic 2007 – San Antônio – Chile 90,5 pontos

João Luiz Souza – Catena Alta Chardonnay 2006 – Mendoza – Argentina – 91 pontos

Kel Lucio Nascimento de Souza – EQ Matetic 2007 – San Antônio – Chile 92,5 – pontos

Marcio Guedes – EQ Matetic 2007 – San Antônio – Chile – 91,5 pontos

Paulo Sampaio One Three 2009 – Hawkes Bay – Nova Zelândia – 92 pontos

Walter Tommasi – One Three 2009 – Hawkes Bay – Nova Zelândia – 91,5 pontos

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