Vin Santo um vinho para poucos

Luca Alves e Giovanni Busso


Adoro os vinhos toscanos como Brunello, Chianti , Nobile , Bolgheri etc , e tenho uma queda especial para os que se utilizam da Sangiovese. Fico muito contente em ver o constante crescimento de venda destas origens, mas a região tem outro vinho, para mim subvalorizado pelo mercado consumidor, que é o Vin Santo, que pertence à linha de vinhos de sobremesa e parte da tradição toscana na hora de receber amigos. O vinho de sobremesa tem um mercado muito restrito e não dá retorno aos produtores, mas por outro lado todo o vinicultor toscano que se preza faz seu vin santo mesmo reclamando que perde dinheiro e que só o faz pelo amor à tradição. Pois bem na semana passada fiquei realmente contente em participar de um evento organizado pelo consorcio dos vinhos do Chianti onde a Master Class foi dedicada a esta delicia toscana. A abertura coube ao presidente do consorcio o Senhor Giovanni Busso, a seguir um resumo histórico a cargo de Luca Alves e embaixador do Consorcio, e os comentários dos vinhos por conta do nosso amigo Jorge Lucki.


Existem três versões para o surgimento deste vinho: a primeira e que ele era utilizado em missas desde muito tempo. A segunda é que em 1348 ano da peste negra ele era utilizado como medicamento e que curava seus doentes, por isto o nome de “santo”. A terceira versão e que em 1439 durante o concilio ecumênico a família Medicis serviu vinho feito com uvas passas e o cardeal Bessarion disse que lhe lembrava o vinho de xanthos, ou seja, da ilha de Santorini e o nome santo acabou sendo utilizado a partir daí para este vinho toscano. Mesmo com muita história e tradição o volume de produção continua sendo muito pequeno senão vejamos, a região do Chianti conta com 15.000 hectares plantados, mas somente 100 são utilizados para o Vin Santo. Existem dois tipos, o Vin Santo elaborado com uvas brancas, a saber Trebbiano Toscano que da vida ao vinho pela sua acidez, além de sua casca grossa permitir secagem natura sem riscos de mofo. A segunda uva é a Malvasia Bianca lunga del Chianti que tem um intenso perfil aromático e gera vinhos mais elegantes. Estas duas uvas juntas devem representar um mínimo de 70% do volume utilizado, e o complemento pode vir de outras variedades como Colombano ou Canaiolo Bianco. O segundo tipo é o Vin Santo Occhio di Pernice que é elaborado com a tinta Sangiovese. Na de vinificação o primeiro passo é o da uva passar pelo processo de “apassimento”. Existem dois métodos para se proceder esta secagem: deixar as uvas sobre uma esteira chamada de “cannicci” ou “graticci”, ou pendurá-las em suportes: os pontos fundamentais para um bom resultado são a circulação de ar em torno dos cachos e, a correta distância entre eles. Durante este processo que pode levar de 3 a 6 meses produtor cuida da evolução dos cachos, eliminar os possíveis bagos mofados ou os elementos estranhos, desligando-os ou virando-os no caso dos dispostos sobre as esteiras. Dai a uva vai para prensagem e o mosto é decantado e colocado em caratelli (pequenos contendedores de madeira que podem receber 50, 70, 100 ou raramente 200 litros de mosto) que se encontram no mesmo local do apassimento. Os caratelli não são totalmente enchidos, e fechado com cimento para evitar vazamentos pela expansão do produto durante a fermentação, os mesmos costumam ser de castanheira, cerejeira, amoreiras, acácia ou carvalho. Pela legislação o vinho fica por mínimo de 3 anos para os básicos e 4 para os riserva, mas é muito comum que os produtores o deixem por mais tempo.
Vamos agora aos vinhos degustados:

Vinho 1 – Dedicato alla Gioia Riserva 2011 Podere dell Anselmo (Orgânico) Corte de 80% Malvasia Bianca, e 30% Trebbiano da região Montespertoli com passagem de 5 anos por Caretelli de carvalho e castanheira e 3 anos em garrafa, região solo argiloso. – Âmbar brilhante. Mel, tabaco, especiarias, canela, cravo, amêndoa, pêssego em calda, madeira velha ligeiro químico. Delicado na boca, ótima acidez, seco, fresco muito agradável, final de boca suave com presença de especiarias. Foi meu favorito entre os vinhos mais secos. Vinho de 20 euros na Itália

Vinho 2: Teuta di Artimino 2012 Corte de 50% Trebbiano e 50% Malvasia da região de Montalbano, passagem de 3 anos por caratelli de carvalho, mais 3 anos em garrafa, solo de galestro. – Alaranjado média intensidade. Fechado, mais austero, amadeirado, ameixa, baunilha, funghi porcini, nêspera. Bom balanço de boca, leve trava, mais seco, corpo médio. Vinho mais simples e delicado mas com ligeiro amargor. Vinho de 16,5 Euros na Itália.

Vinho 3 – Castello Poppiano 2010 Varietal 100% Malvasia Bianca da região dos Colli Fiorentini ,com passagem de 4 anos por caratelli de castanheira mais 1 ano em garrafa, região de solo calcário. – Âmbar mais escuro, cristalino. Boa complexidade, pêssego, própolis, químico, terroso, ameixa rapadura. Alta acidez meio seco, leve tanino, mais alcoólico, corpo médio final com amêndoa amarga. Vinho de 16 Euros na Itália


Vinho 4 – Pietro Beconcini 2009 – Corte de Malvasia Bianca, Trebbiano, San Colombano , e Malvasia Nera da região das Colline Pisane, com passagem de 6 anos em caretelli de castanheira e carvalho, solo arenoso com fosseis marinhos, certificação orgânica.- Âmbar, mais escuro, brilhante. Olfativamente complexo, ameixa, tostado, floral, mineral, chocolate, alecrim da região de. Na boca, macio muito bem equilibrado, cremoso, picante, vibrante, seco, final com pêssego, ameixa, e terroso, um pouco mais doce que os anteriores. Vinho de 32,5 Euros na Itália

Vinho 5: Poggio Salvi 2007 – Corte de Trebbiano 60% e Malvasia 40% da região dos Colli Senesi com passagem de 4 anos por barricas de carvalho mais 2 anos em garrafa, em região de solo argiloso e ferro. Âmbar, opaco. No nariz aromas químicos, especiarias, tâmara, floral, toque sanguíneo, e tostado. Ótimo balanço de boca, boa acidez, mais estruturado, leve rusticidade final com ameixa e tâmara. Um vinho bem mais doce com leve acidez volátil. retrogosto lácteo. Vinho de 20 Euros na Itália.

Vinho 6 – Marchesi Gondi Cardina de Retz Riserva 2007 – Varietal 100% Trebbiano, com passagem de 10 anos em barricas e caratelli de carvalho mais 1 ano de garrafa, em região de solo. calcáreo. – Âmbar bem escuro, brilhante. Olfativamente complexo, com diversas camadas olfativas, ameixa preta, acidez volátil, mineral, tostado, terroso, pêssego em calda, tâmara, condimentos, menta, balsâmico, especiarias e madeira. Alta acidez ponta de álcool, picante, potente delicioso, um exemplar mais estruturado com ótimo balanço de boca Vinho de 25 Euros na Itália

Vinho 7 – Tenuta Fraternita Occhio di Pernice 2015 – Varietal 100% Sangiovese da região dos Colli Arentini, com passagem de 3 anos por barrica nova mais 1 ano de garrafa, de solos argilosos e, calcáreos. Âmbar bem escura, brilhante. Olfativamente trazendo ligeira acidez volátil, casca de laranja frutas cândidas, floral, tâmara e tostado. Na boca, muito macio mesmo que bem estruturado e com leve tanicidade, elegante denso, dulçor controlado, final macio, delicioso. Vinho de 32 Euros na Itália
Meus favoritos: Dedicato ala Gioia, Pietro Boconcini, Marchesi Gond e Tenuta Fraterita.
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