Entrevista com Roberto Stucchi e sua Badia Coltibuono

Tive o prazer o prazer em nome da Vinho & Cia de entrevistar Roberto Stucchi Prinetti, proprietário e enólogo da vinícola Badia Coltibuono, considerada uma das mais tradicionais do Chianti atuando desde 1846, vamos a ela.

Vinho & Cia – Boa tarde Roberto por favor conte para nossos leitores um pouco sobre a origem da abadia que dá nome a tua vinícola e a teus vinhos

Roberto – Em 1051 o monge valombrosano Giovanni Gualberto recebeu a igreja de San Lorenzo em Coltibuono como um presente de poderosos senhores feudais locais, com a ordem de construir uma residência anexa para o clero, e uma hospedagem para os peregrinos. A abadia passou para propriedade de nossa família em 1846. Já falando de nossos dias meu pai nunca atuou no mundo dos vinhos, e tinha diversos outros negócios que ajudavam a pagar as despesas da mesma mas, por ter uma cabeça aberta para negócios, escutou os conselhos de pessoas próximas e acabou entrando na produção de vinhos nos anos 1960.

Vinho & Cia – Que tal você nos contar rapidamente tua trajetória no mundo dos vinhos

Roberto – Eu vivi em Milão, mas sempre fui um apaixonado pelo campo só que lá, no centro da cidade, eu só podia cuidar de plantas que cresciam em vasos no terraço de casa. Por causa desta paixão logo passei a estudar engenharia agrícola assim como a biodinâmica, mas comecei a trabalhar na vinícola só nos anos 1980. Depois de 4 anos  decidi passar um ano nos EUA trabalhando em uma pequena vinícola e aproveitando para estudar agricultura orgânica em Napa Valley, e em 1985 estava de volta à Abadia.

Vinho & Cia – Qual é tua filosofia de trabalho com os vinhos na Badia Coltibuono?

Roberto – Sigo os preceitos da agricultura orgânica, acredito em técnicas e equipamentos modernos, mas o mais importante para mim é a região de onde as uvas são provenientes. Faço vinhos com um estilo mais clássico, seleção basal, uso de leveduras indígenas, gosto de fazer blends, só utilizo bottes grandes para maturar meus vinhos.

Vinho & Cia – Vocês mantiveram o estilo de vinho tradicional desde sempre ou se adaptaram ao gosto do mercado?

Roberto – Olha Walter, eu sou considerado cabeça dura dentro da família e este assunto já foi tema de grandes discussões entre nós. Sou tradicionalista e foi difícil manter o estilo nos anos 1990 pois as pontuações das revistas especializadas não nos pontuavam, exatamente por nossos vinhos não serem do estilo mais novo mundista que predominavam nesta época.

Vinho & Cia – O Consorcio criou a linha Gran Selezione, o que você acha de mais este crescimento da pirâmide de qualidade?

Roberto – Opa, eu fui inimigo jurado desta categoria, sempre contra esta ideia de classificar os vinhos por tempo de guarda, porcentagem de álcool etc. Prefiro fazer o reconhecimento dos diferentes terroir e por isto até agora nunca produzi nenhum Gran Selezione, mas não posso negar que a categoria valorizou seus vinhos trazendo melhor retorno aos produtores.

Vinho & Cia – E o que você me diz da nova categoria, a UGA (Unita Geografice Aggiuntive) que vai permitir aos produtores declarar as sub-regiões de onde as uvas são originarias e o vinho é elaborado?

Roberto – Sim, com esta nova legislação concordo totalmente, pois deixa claro em qual terroir o vinho é gerado, mas continuo achando que é conflitante com o modelo Gran Selezione. De qualquer forma esse é o modelo que quero adotar em minha vinícola, e por conta de só os Gran Selezione poderem utilizar a UGA logo logo terei que lançar meu próprio rotulo nesta categoria. Não custa lembrar que este projeto da UGA foi estudado pelo Consórcio há mais de 40 anos é só agora foi aprovado.

Vinho & Cia – E o que você me diz sobre teu supertoscan Sangioveto completar 43 anos, e porque esta classe nunca entrou como uma tipologia do Chianti Clássico?

Roberto – Pois é, o tempo passa, foi um movimento sensacional que liberou os produtores das regras rígidas e superadas do Chianti Classico naquela época, mas que com o passar do tempo perdeu um pouco do foco por ser uma categoria muito vaga, mesclando territórios. Recentemente nos, e mais alguns produtores, montamos uma associação chamada Historical Supertoscan somente com a participação de produtores da região do Chianti Clássico, criada para proteger e valorizar a identidade e a história dos vinhos históricos da região, e destacando o trabalho dos pioneiros deste movimento. 

Vinho & Cia – Para mudar um pouco de assunto, como você vê o futuro dos vinhos orgânicos e biodinâmicos?

Roberto – Acredito piamente nos sistemas e somos produtores orgânicos desde o ano 2000, também estudei a biodinâmica, mesmo que não a utilize nos meus vinhedos. É uma ótima prática que não tem mais retorno, e é cada vez mais utilizada não só para o vinho, mas para outras culturas, e que até me atrevo a dizer que é sub utilizada, pois existe tanta terra abandonada no mundo que sua utilização realmente poderia ajudar ainda mais a produção de alimentos mais sadios e sustentáveis.

Vinho & Cia – Algo mais que você queira complementar?

-Roberto – Quero só reforçar a divulgação de nosso território e sua relação com as variedades autóctones, especialmente com a sangiovese, que gera, quando produzido de forma correta, vinhos elegantes e que se casam perfeitamente não só com a gastronomia italiana, mas com a de muitos outros países.

Vinho & Cia – Gostaria de te agradecer por esta entrevista e desejar um contínuo sucesso com tua Badia Coltibuono e teus maravilhosos vinhos.

Roberto – Grazie! Foi muito prazeroso conversarmos sobre assuntos tão importantes. Também fico muito feliz por ter tantos consumidores fiéis aqui no Brasil.

Os vinhos da Badia Coltibuono estão disponíveis no Brasil pela Mistral seu importador exclusivo, vamos a eles: Chianti Classico DOCG 2020 – R$ 330, Chianti Classico Riserva 2016 – RS 550, Cultusboni RS Chianti Classico DOCG2018 – R$ 275, Chianti Cetamura 2019 – R$ 210, Canceli 2019 – R$180, Sangioveto di Toscana IGT 2015- R$ 770, Vin Santo del Chianti Classico R$ 590.

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