O prazer de tomar vinhos maduros

Já fazem uns dois anos que quero organizar uma degustação de vinhos maduros, inicialmente estabeleci de vinhos acima de 50 anos, mas devo admitir que é uma tarefa bastante difícil pois nem todo mundo tem estas garrafas históricas em suas adegas ou consegue comprar algum exemplar no mercado brasileiro. Mas finalmente neste mês de outubro com a ajuda do Marcio Guedes e do meu irmão Alessandro conseguimos juntar 8 exemplares de vinhos acima de 30 anos e digo que o exercício não poderia ter sido melhor. É claro que nem todos os vinhos são adequados para envelhecer por tanto tempo, mas contamos com o bom senso dos participantes em levar vinhos nos quais por experiência própria acreditávamos que poderiam chegar lá.

Uma coisa é certa, a teoria de que vinho velho é tudo parecido definitivamente não ficou comprovada nesta degustação talvez até pela boa escolha dos vinhos servidos: Vamos a eles

Marqués de Riscal 1981, Rioja, Espanha 13% de álcool – Corte com Tempranillo, Graciano e Mazuelo – Granada, ralo halo intenso Frutas vermelhas oxidadas, e tostado marcado. Boca com acidez sobressalente, desequilibrado, final de boca com fruta oxidada e madeira. Este vinho costuma envelhecer bem, pode ter sido má conservação em adega, uma pena.

Merlot 1980, Weinert, Mendoza, Argentina 13,5% de álcool – Varietal 100% Merlot – Rubi, boa concentração, leve halo. Nariz muito austero trazendo pétalas de rosas acompanhadas de cereja no licor, couro, herbáceo, leve brett que não prejudicou o exemplar e tostado. Na boca acidez correta, estruturado bom equilíbrio entre acidez, tanino e álcool, longo, final de boca lembrando Bordeaux. Aguentou bem os anos de garrafa

Casa Ferreirinha Reserva 1989, Douro, Portugal 12,5% de álcool – Corte de vinhas velhas – Rubi extra tinto, sem halo de evolução. Nariz complexo trazendo café cereja, pimenta preta, chocolate, toque herbáceo e chá. Na boca tripé correto, austero, taninos resolvidos, picante, longo final frutado com presença de terciários. Um eterno campeão de longevidade, não deixou por menos nesta degustação ficou em terceiro em minha lista de favoritos.

Concha Y Toro Reservado 1986, Valle Central, Chile, 11,5% de álcool – Varietal 100% Cabernet Sauvignon – Granada, extra tinto com halo intenso de evolução. Olfativamente já apresentando os sinais de decadência, trazendo uva passa bem adocicada, flores secas e tostado. Na boca acidez baixa, taninos inexistentes, corpo médio retrogosto confirmando as frutas oxidadas. Este foi o coelho da noite colocado por um confrade apenas para ver como se portava frente aos vinhos de guarda, certamente sem grandes expectativas por ser um vinho mais básico

Brunello di Montalcino Campo Giovanni San Felice 1987 Toscana – Itália ,13% de álcool – Varietal 100% Sangiovese – Rubi indo para granada, leve halo de evolução. Nariz agradável mais para o lado das frutas negras maduras, com ligeira evolução, violetas, fosforo, tosta e sottobosco. Na boca ótima acidez, taninos finos ainda presentes, bom corpo como deve ser o Brunello, final confirmando a fruta madura e a boa textura. Um Brunello tradicionalista, elegante, foi destaque

Château Le Clos du Notaire, 1985, Bordeaux – França, 14,5% de álcool – Corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, e Cabernet Franc – Rubi, extra tinto sem halo. Leve presença de fruta vermelha madura, flores seca, químico, baunilha e estranhamente um toque de bacon. Na boca boa acidez, tanino resolvido corpo amplo, média persistência, retrogosto com fruta madura levemente passada, macio e redondo. Um vinho potável, mais simples de uma grande safra, era de se esperar algo a mais

Château Haut Beychevelle Gloria 1982, Bordeaux França 12% de álcool – Corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, e Cabernet Franc – Rubi, extra tinto, sem halo aparente. Olfativamente complexo, fruta negra madura como cereja, pétalas de rosas, ervas aromáticas, flores escuras, couro e toque de pólvora. Na boca tripé perfeito, persistência longa final frutado sem grande evolução de frutas. Um vinho vibrante com perfeito balanço de boca, em sua janela correta de consumo, delicioso, foi meu exemplar favorito.

.Viña Tondonia 1987, Lopez Heredia, Rioja – Espanha, 12% de álcool Corte com Mazuelo, Graciano, Garnacha, Tempranillo – Rubi, alta concentração sem halo. Outro vinho complexo, mas mais austero, floral intenso, fruta vermelha madura, toque lácteo e coco característico dos vinhos desta região. Na boca alta acidez, taninos empoeirados já definidos, leve acidez volátil que deu vibração ao vinho. Um típico Rioja tradicionalista, foi meu segundo favorito do painel

Cada um dos oito participantes escolheu seus três vinhos favoritos e os 4 mais votados por ordem foram 1º Château Haut Beychevelle Gloria 1982, 2º Brunello di Montalcino Campo Giovanni San Felice 1987, 3º Viña Tondonia 1987, 4º Casa Ferreirinha Reserva 1989

Para o próximo ano vamos tentar organizar nova degustação com vinhos acima dos 40 anos.

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