MERLOT, UMA RAINHA ESQUECIDA?


Por: Walter Tommasi


Neste mundo globalizado do vinho estamos assistindo a uma verdadeira revolução que tem como meta atender às mais variadas exigências dos novos consumidores, nesta batalha as principais armas são: a tecnologia, os investimentos, a busca por novas variedades, o uso de diversos tipos de barricas, milhares de fermentos, a biodinâmica, a variação de estilos, a opinião dos gurus, e algumas vezes até mesmo o impacto do cinema. Sideways de 2004 foi certamente um filme que mudou o consumo do vinho no mundo e que apresentou um ganhador,a Pinot Noir, e um perdedor, a Merlot? Mas a pergunta que não quer calar é “Por que tudo deve ter um perdedor e um ganhador?” No filme, o protagonista, mostra repulsa em tomar um Merlot durante um jantar, mesmo que no final do filme ele se delicie com um Château Cheval Blanc safra 1961, ícone francês elaborado prioritariamente com Merlot. O impacto nas vendas desta variedade foi violento, despencaram no mundo inteiro, especialmente nos EUA, grande consumidor e produtor de excelentes Merlot. Uma grande injustiça, pois tanto a Pinot como a Merlot são uvas de alta estirpe e não deveriam ser comparadas, mas sim apreciadas pelas suas características únicas. Nesta edição nós, da Free Time, queremos prestar uma homenagem, e quem sabe de uma forma ou outra ajudar no esforço mundial de retomada do consumo desta espetacular variedade.
A Merlot é originária de Bordeaux, na França, descendente da Cabernet Franc, tendo como meias-irmãs a Carmenère e a Cabernet Sauvignon. Ainda é a variedade mais plantada na França, especialmente após a popularização dos vinhos da região do Languedoc onde entra na composição dos Vin de Pays. Em Bordeaux atinge seu ápice nos cortes bordaleses da margem direita do Gironde nas denominações Saint-Émilion e Pommerol, enquanto na margem esquerda tem forte presença em Saint-Estèphe. Por sua facilidade de adaptação, alastrou-se pelo mundo inteiro e hoje produz vinhos de altíssima qualidade, especialmente na Itália (Friuli e Toscana ), EUA (Califórnia), Chile (Central Valley), além de Portugal, Argentina, Austrália e África do Sul. As características principais da uva se traduzem em vinhos macios, com taninos doces, álcool e acidez equilibrados, e boa estrutura. Olfativamente marcados por frutas negras, ameixa, groselha, floral lembrando rosas, leve herbáceo e toques de especiarias, além dos terciários trazidos pelo contato com a madeira. Nesta degustação provamos 22 exemplares enviados por livre escolha dos importadores que somente foram limitados nos valores inferiores fixados em R$ 70,00 por garrafa. Foram nove países, mas se observarmos as diferentes origens dentro dos países podemos ter uma ideia de quão adaptável é esta uva, e bons exemplos disto podem ser os vinhos italianos com três origens diferentes, Friuli, Toscana e Sicília, e os chilenos com cinco, Casablanca, Maipo, Apalta, Maule e Rapel. Cada um com suas características e peculiaridades.
Nossa degustação ocorreu no dia 21 de outubro no bucólico restaurante Casa da Fazenda, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Estiveram presentes os seguintes profissionais: Beto Acherboim, Erick Scoralick, Ivan Achcar, Jeriel Costa, José Luiz Pagliari, Marcello Borges, Nelson Luiz Pereira, Neuri Coletto, Ralph Schaffa, Tony Gonçalves e Walter Tommasi. Vamos agora aos resultados.
A DEGUSTAÇÃO
Todas as amostras dos vinhos foram escolhidas e enviadas diretamente pelas importadoras e casas especializadas, a quem queremos agradecer a participação. A prova ocorreu às cegas, sendo todas as garrafas envoltas em papel-alumínio, evitando o reconhecimento dos rótulos e produtores no momento do serviço do vinho. Contamos com taças ISO especiais para degustação, e os vinhos foram servidos em grupos de 4 exemplares. Os experts convidados utilizaram-se de fichas de degustação padrão de 50 a 100 pontos, em que o aspecto visual vale 10, o olfativo 30 e o gustativo 60. Na média das notas, visando evitar distorções, tomamos o cuidado de eliminar a nota mais alta e a mais baixa de cada vinho analisado.

DEGUSTAÇÃO DE VINHOS – RESULTADOS
Apresentamos agora uma descrição organoléptica de cada um dos vinhos degustados, deixando claro que os comentários refletem a convergência das opiniões de todos os degustadores presentes. Consideramos:

( IIIII ) Excepcional Qualidade
( IIII ) Ótima Qualidade

( III ) Boa Qualidade

( II ) Sem Defeitos

Classificamos os vinhos da seguinte maneira:

IIIII acima de 95 pontos
IIII de 90 a 94,9 pontos
III de 85 a 89,9 pontos

II de 80 a 84,9 pontos

I de 70 a 79,9 pontos


QUATRO ROLHAS





Podalirio Querceto di Castellina 2005 – Toscana Itália – Violáceo, média concentração, sem halo. Muito complexo, com frutas vermelhas maduras, químico, mentolado, defumado, notas de carne, balsâmico e tostado agradável. Tripé perfeito, taninos muito finos, suculento, encorpado, persistência longa, retrogosto frutado confirmando o olfativo. Vinho para grandes ocasiões. Enoteca Fasano (011)3074-3959 – R$ 249,00 – Nota 90,8







TRÊS ROLHAS







Just Me Di Lenardo 2007 – Friuli Itália – Violáceo, alta concentração, sem halo. Complexo, frutas negras em compota, mineral, terroso, leve tostado.  Alta acidez, taninos finos, boa estrutura, persistência longa, retrogosto fresco e frutado. Jovem de alto potencial e muito gastronômico. Enoteca Fasano (011)3074-3959 – R$ 229,00 – Nota 89,7








Petrus Gaia Premier Cru 2007 – Bordeaux França – Violáceo, média concentração, sem halo. Olfativamente complexo, cerejas, defumado, especiarias, floral, carne, notas de chá. Acidez correta, ótima estrutura, taninos finos, persistência longa e retrogosto frutado.  Vinho elegante e amplo. Zahil (011) 3071-2900 – R$ 215,00 – Nota 89,2








Thomas Barton Reserva 2007 – Bordeaux França – Violáceo, média concentração, sem halo. Frutas vermelhas, bala de cevada, floral, lácteo e tostado leve lembrando café. Tripé correto, taninos doces, corpo médio, boa persistência, retrogosto floral. Um velho mundo, jovem e elegante. Interfood (011) 2602-7255 – R$ 111,90 – Nota 88,7








Bouza B9 Parcela Única 2006 – Canelones Uruguai – Violáceo, média concentração, sem halo. Cereja, especiarias, toques químicos, baunilha, chocolate preto e café. Boa acidez, taninos presentes ligeiramente verdes, bom corpo, persistência longa e retrogosto frutado. Um vinho envolvente.  Decanter (011) 3074-5454 – R$ 147,70 – Nota 88,1








Bogle 2007 – Califórnia EUA – Granada de média concentração e halo de evolução. Complexo com predominância de terciários, tostado, frutas cozidas, cerejas, sottobosco, herbáceo e toque de baunilha. Acidez correta, taninos presentes, boa estrutura, quente, persistência longa, ligeira aspereza. Vinho com personalidade própria. Wine Lovers  (011) 5531-0081 – R$ 85,00 – Nota 87,7 








Planeta 2006 – Sicília Itália – Rubi, média concentração, sem halo. Predominância frutada, mentolado, grama cortada, especiarias, tabaco e toques minerais e resinosos. Boa acidez, taninos jovens, estruturado, bom corpo, álcool marcado e persistência longa. Um vinho de nervo.  Interfood (011) 2602-7255 – R$ 166,90 – Nota 87,5 








Gillmore Reserva 2006 – Maule Chile – Violáceo, média concentração, sem halo. Geleia de framboesa, baunilha, goiaba, toque mentolado, resinoso, e mineral lembrando pólvora. Na boca, muito bem balanceado, macio, taninos finos, acidez correta, bom corpo e persistência longa, retrogosto frutado ligeiramente adocicado. Para tomar a garrafa inteira.  Ana Import (011) 5501-1900 – R$ 110,00 – Nota 87,1








Raka Barrel Selected 2006 – Western Cape África do Sul – Rubi, média concentração, sem halo. Aromas frutados, cereja, pimenta-preta, estrebaria, couro, barricas velhas, chocolate e leve herbáceo. Acidez marcada, taninos finos, toque alcoólico, encorpado, persistência longa, retrogosto frutado. Um belo vinho. Decanter (011) 3074-5454 – R$ 83,65 – Nota 87,0








Grey Ventisquero 2007 – Apalta Chile – Violáceo, alta concentração, sem halo. Complexo, geleia de framboesa, balsâmico, herbáceo, especiarias, chocolate preto e toque mineral. Na boca, bem estruturado, boa acidez, taninos finos, corpo e persistência longa, final de boca frutado e tostado. Muito bem elaborado. Cantu 0300 210 10 10 – R$ 88,00 – Nota 86,9








Maurus Vie di Romans 2004 – Friuli Itália Violáceo, alta concentração, sem halo. Floral com toques frutados, ameixas, herbáceo, químico, especiarias, terroso e tostado agradável. Ótima acidez, taninos finos, bom corpo e persistência, retrogosto frutado. Um vinho intrigante. Vinci (011) 2797-0000 – R$ 130,00 – Nota 86,8        








Felino Viña Cobos 2008 – Mendoza Argentina – Rubi, baixa concentração, sem halo. Floral, rosas, toque frutado, framboesa, especiarias, sottobosco, feno e ligeiro tostado. Redondo, ótima acidez, taninos presentes, corpo correto, persistente, retrogosto fruta com toque de feno. Jovem de alto potencial.  Grand Cru (011) 3062-5170 – R$ 70,00 – Nota 86,8








Brokfields 2007 – Hawkes Bay Nova Zelândia – Violáceo, média concentração, sem halo. Complexo, frutado, cereja, animal, terroso herbáceo, couro e baunilha. Na boca, untuoso, macio, ótima acidez, taninos finos, bom corpo e persistência, retrogosto frutado. Vinho redondo, pronto. Premium (031) 3282-1588 – R$ 90,00 – Nota 86,7








Joffré e Hijas Premium 2005 – Mendoza Argentina – Rubi, média concentração sem halo. Olfativamente frutado, ameixa, toque farmacêutico, sottobosco e tostado.  Alta acidez, taninos ligeiramente verdes, bom corpo e persistência. Enoteca Fasano (011)3074-3959 – R$ 106,00 – Nota 86,7








Catrala Gran Reserva 2007 – Casablanca Chile – Rubi, média concentração, sem halo. Complexo, ameixa, cereja no licor, leve goiaba, cevada e tostado lembrando baunilha. Alta acidez, taninos presentes, encorpado, persistência longa e retrogosto com cerejas no licor confirmando o olfativo.  Um novo mundo bem frutado. Vinea (011) 3059-5200 – R$ 71,00 – Nota 86,2








Chivite Biologico 2007 – Navarra Espanha –  Violáceo, alta concentração, sem halo. Framboesa, herbáceo, tostado e forte terroso.  Ótima acidez, taninos finos, bom balanço de boca, bom corpo, quente e persistência longa. Mistral (011) 3372-3400 – R$ 85,50 – Nota 86,0








Santa Alicia Gran Reserva 2006 – Maipo Chile – Rubi violáceo, média concentração. Olfativamente agradável, ameixas, sottobosco, toque lácteo, terroso, floral e tostado. Acidez correta, taninos finos, corpo médio, ligeiramente alcoólico, persistência longa, final de boca frutado e agradável. Vinho honesto. Max Brands (011) 2174-6700 – R$ 75,00 – Nota 85,7








Cinco Tierras Premium Banfi 2005 Mendoza Argentina – Violáceo, média concentração, sem halo. Aromas frutados, vinoso, floral, sottobosco, toque animal e baunilha. Na boca, boa acidez, taninos ainda verdes, quente, corpo médio e persistência.  MS Importadora (011) 7891-7894 – R$ 70,00 – Nota 85,8








Château de La Cour d’Argent 2005 – Bordeaux França – Violáceo, baixa concentração. Delicado, floral, rosas, framboesa, ameixa, toque balsâmico, especiarias e leve café. Elegante, bom balanço de boca, acidez correta, taninos finos, corpo médio, persistência longa e retrogosto frutado. Muita classe e elegância.  World Wine (011) 3383-7477 – R$ 78,00 – Nota 85,1






DUAS ROLHAS 







Hook Ladder 2006 – Russian Valley EUA – Violáceo, média concentração. Herbáceo, mineral, cereja, resinoso, toque farmacêutico e baunilha. Acidez marcada, taninos presentes, corpo e persistência média, retrogosto químico.  Smart Buy (011) 2308-2783 / 7477 – R$ 93,00 – Nota 84,6








Terre Magre 2007 – Friuli Itália – Rubi, média concentração. Cereja, toque floral, tostado.  Acidez média, magro, taninos presentes, corpo e persistência média, retrogosto floral.  Vinea – (011) 3059-5200 – R$ 70,00 – Nota 83,9








Surazo Gran Reserva 2002 – Rapel Chile Granada, média concentração, evoluído. Aromas de evolução lembrando vermute, ameixa seca, terroso, defumado, tabaco e café. Na boca, cansado, seco, taninos presentes, corpo médio, ligeiro amargor final. Já em declínio. Porto Mediterrâneo (047)3263-0006 – R$ 124,00 – Nota 83,1







Vejam agora os vinhos favoritos de cada degustador e a nota dada por ele ao exemplar escolhido

Beto Acherboim – Podalirio – Enoteca Fasano – 91,5 pontos
Erick Scoralick  – Podalirio – Enoteca Fasano – 91 pontos
Ivan Achcar – Podalirio – Enoteca Fasano – 94 pontos
Jeriel da Costa – Petrus Gaia – Zahil – 90 pontos
José L. Pagliari – Podalirio – Enoteca Fasano – 92 pontos
Marcello Borges – Thomas Barton – Interfood – 91 pontos
Nelson Luiz Pereira – Just Me – Enoteca Fasano – 88 pontos
Neuri Colleto – Raka – Decanter – 94 pontos
Ralph Schaffa – Maurus – Vinci – 88,5 pontos
Tony Gonçalves – Just Me – Enoteca Fasano – 92 pontos
Walter Tommasi – Podalirio – Enoteca Fasano – 93 pontos

2 Replies to “MERLOT, UMA RAINHA ESQUECIDA?”

  1. Obrigado por sua nota e correção. Acho que deixei meu gosto superar a memoria das imágens do filme. Pelo visto temos gosto similar , tambem tenho a Pinot como minha uva favorita mas nada melhor do que tomar cada vez uma variedade respeitando suas caracteristicas e seus terroir. Boas festas

  2. Walter, concordo contigo, a Merlot é uma grande uva, além de ser bobagem se restringir a uma única uva, como a pinot noir, que apesar de ser minha preferida não é suficiente para saciar minha sede de experimentar novos sabores e estilos de vinhos.
    Só uma correção quanto ao filme sideways. No final o protagonista toma um Cheval Blanc 1961, que é também um Merlot com cabernet franc, outra uva que ele diz achar ordinária quando degusta um varietal no início no filme.
    Abraço

    Rodrigo

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