COLUNISTAS – Os segredos dos altos de Santa Catarina

Sérgio Inglez de Sousa
sergioinglez@uol.com.br

A tradicional viticultura catarinense, trabalho de italianos gaúchos em novas terras, sempre ofereceu grandes quantidades de vinhos comuns, segundo velhas receitas de tempos passados. O cenário atual é bem diferente porque resulta do envolvimento de empresários bem-sucedidos em outros segmentos, com visão empresarial moderna projetada no negócio do vinho. Essas iniciativas se espalham pelas terras de São Joaquim, Altos de Caçador, Serra do Marari e Campos Novos. O elemento comum entre elas é a altitude dos vinhedos, de 900 a 1.400 metros.
A intensidade de insolação durante o dia, amenizada pelo frio da altitude, garante energia suficiente para a videira evoluir em ritmo comedido, com ramagens menos robustas, folhas mais delicadas e frutos de maior complexidade. Esta frutificação mais vagarosa dá, ao final, grande concentração de açúcares e de aromas de especial fineza. O frio mais forte das noites garante o devido repouso das plantas.
Por outro lado, o ciclo lento de maturação empurra a colheita para fora da época das chuvas de verão, garantindo que os bagos com riqueza de açúcar e de polifenóis maduros não se percam. Os vinhos retratam essas condições ideais.
Um dos pioneiros experimentadores de viníferas foi Edson Ubaldo, em terras de Campos Novos. Advogado, desembargador e escritor, iniciou seus vinhedos em 1981 e foi experimentando até 2003, quando vinificou efetivamente a primeira safra de Cabernet Sauvignon. O sucesso contaminou outros vinhateiros.
A questão ganhou mais força no final da década de 1990, com a constatação da boa adaptação daquela casta em São Joaquim, animando pioneiros como Francisco Brito, Acari Amorin e Nelson Essenburg a constituírem o primeiro projeto efetivo para vinhos finos, a Quinta da Neve.
A partir daí, brotaram as novas iniciativas.
A Villa Francioni, do saudoso Dilor de Freitas, tem uma das mais belas vinícolas do mundo e mescla arte, arquitetura e tecnologia. Nos dias que correm, tem consolidada a imagem de seus excelentes vinhos como o Chardonnay, o tinto Joaquim, o elegante Villa Francioni, um grande Sauvignon Blanc e espumantes. O Rosé é espetacular.
A Villaggio Grando, de Maurício Grando, tem vinhedos em Água Doce e, presentemente, trabalha o mercado com vinhos destacados pela qualidade, como os varietais Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Sauvignon Blanc e o multicastas Innominabile, este um vinho destacável.
O falecido empresário Caio Pisani e o vinhateiro Celso Panceri, subindo as encostas da Serra do Marari, formaram vinhedos de altitude, de onde saem as uvas para dois Grandes Reservas Pisani Panceri Merlot e Cabernet Sauvignon, além dos rótulos Panceri, com destaque para o Teroldego.
A pioneira Quinta da Neve, agora com a participação do Adolar Hermann (Decanter), está se destacando com os rótulos Pinot Noir e Cabernet Sauvignon.
Empresários paulistas formaram a Quinta Santa Maria, que desenvolveu um trabalho especial de preparo do terreno dos vinhedos. Seus vinhos já estão aparecendo no mercado: o Cabernet Sauvignon Portento e o corte Utopia.
A Sanjo trabalha vinhedos em várias faixas de altitude, de cujas uvas elabora diferentes Cabernet Sauvignon: Nobrese, Núbio tinto, Nubio rosé e o Maestrale. A versão Núbio Sauvignon Blanc é a mais típica e sensacional versão brasileira desta variedade.
A Suzin, com seus vinhedos muito bem cuidados, tem se destacado com um estruturado Merlot, um bom Cabernet Sauvignon e um corte de ambas as castas com marcante personalidade.
A Pericó é o braço vinícola de uma megaempresa do segmento do vestuário, a Malwee. Sua implantação fez-se segundo a mais alta tecnologia de elaboração de vinhos e o resultado são seus ótimos espumantes Cave Pericó (branco e rosé) e o rosé tranquilo Taipa, que já vem fazendo história.
Por isso tudo, é obrigatório para os apreciadores conscientes provar os vinhos catarinenses de altitude e conhecer os nobres segredos escondidos no misterioso universo de suas garrafas.

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